Todos são chamados a assumir o seu lugar próprio no enfrentamento deste desafio cidadão. Assumi-lo com decisão, buscando amparo e luzes nos valores do Evangelho. À Luz desses valores temos a chance de fazer uma leitura mais adequada da realidade complexa na qual estamos inseridos.
Temos convicção de que atentos e fiéis aos valores que emanam do Evangelho, cada eleitor poderá agir e decidir, fazendo escolhas capazes de gerar novos rumos no mundo da política brasileira. Há um momento primeiro que não pode ficar fora da pauta do cidadão que se orienta pela indissociável relação entre fé e vida.
Trata-se de uma discussão ética, ampla e fundamentada, a respeito de candidaturas, programas de governo e representatividade. A sociedade espera de cada um de nós o testemunho da fé, que se traduz na vivência do cotidiano, que tem muito a contribuir para a transformação da vida, com incidências próprias no âmbito político e partidário.
Os partidos políticos, assim como as organizações da sociedade civil são indispensáveis à democracia. São as artérias pelas quais a cidadania constrói, oxigena e aperfeiçoa a democracia. Criminalizar os partidos políticos e as organizações da sociedade civil porque seus membros falham, é criminalizar o exercício da cidadania e, por consequência, mutilar a própria democracia. Deve-se punir, sim, aqueles indivíduos que se utilizando das instituições cometem crimes contra a democracia e as conquistas políticas, sociais, econômicas, dentre outras, da cidadania.
Então, ao fazer nossas escolhas, é preciso compreender que, ao fazê-las sem critérios, estaremos gerando um grande prejuízo que incide sobre décadas da história futura e, de modo ainda mais perverso, no presente, sobre a vida dos mais pobres.
Cada um é convidado a compreender a política, conforme ensina o Papa Francisco, como uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum. Essa é mais uma oportunidade de aperfeiçoar a democracia a partir de reflexões, reuniões, voto consciente contra a corrupção e a favor da honestidade.
Todo cidadão tem direito a ser governado e representado por agentes políticos probos, íntegros e honrados. Este é o momento certo que o processo democrático nos oferece para garantir à sociedade o seu direito de exercer democraticamente o poder político, melhorando a representação. Agora é hora privilegiada de cada cidadão contribuir para qualificar a gestão pública e o serviço à política. Não é tarefa fácil fazer a melhor escolha.
Por isso, torna-se indispensável analisar programas e propostas das coligações partidárias e ponderar elementos, especialmente aqueles de inegociável sensibilidade social, num momento em que o pobre e o excluído precisam ter prioridade de tratamento e destinações. Não se pode dispensar o compromisso dos que têm competência para gerar e garantir dinâmicas de crescimento econômico e a conseqüente inclusão social, alargando as conquistas sociais nas áreas da saúde, educação, assistência social, da agricultura familiar e convivência com o semiárido.
Por tais razões, já não é possível se deixar levar por apelos emotivos e falsas promessas dos candidatos que preferem enganar o eleitor a se comprometer com os graves problemas que a maioria dos brasileiros, no momento, se encontra submergida. Basta lembrar como anda a saúde, a educação, a segurança pública e a situação hídrica que lhe aflige no município em que cada um reside.
Lembremo-nos que o ato de votar não encerra a nossa participação cidadã, mas requer ainda mais uma participação de todos na construção de um modelo de Estado republicano, fundado sob a cidadania, centrado na pessoa e na dignidade humana,onde a tônica principal do desenvolvimento não seja apenas o mercado e o lucro, mas, acima de tudo, a comunidade dos cidadãos, alicerçada na defesa e promoção da justiça, da fraternidade, da igualdade de direitos, da solidariedade, e cuja prática política esteja plasmada nos valores ética e da promoção e defesa da vida de cada pessoa, especialmente dos mais pobres e indefesos, as crianças e idosos.
Por fim, rogamos ao Senhor Deus que derrame sobre cada eleitor brasileiro e potiguar, o Dom do Espírito Santo: da sabedoria e da inteligência, do discernimento e da caridade, a fim de que possamos fazer nossas escolhas amparadas nos princípios do Bem Comum, da supremacia do interesse público, da justiça social e da paz entre os povos. Com especial bênção apostólica.
Dom Jaime Vieira Rocha
arcebispo de Natal
Dom Mariano Manzana
bispo de Mossoró
Dom Antônio Carlos Cruz Santos, MSC
bispo de Caicó