PRIMEIRA LEITURA - Eclo 3,19-21.30-31
O texto hoje é
do livro do Eclesiástico (a sigla é Eclo; cuidado para não confundir com
Eclesiastes, cuja sigla é Ecl) ou Sirácida (em hebraico, Jesus Ben
Sirac). O que temos hoje é uma tradução grega feita pelo neto do autor
por volta do ano 132 a.C. Nesta época, a Palestina estava sob o domínio
da Síria e havia um grande problema: os dominadores queriam a todo o
custo impor a cultura, a religião e os costumes gregos. Muitos se
entusiasmavam com a novidade, mas não estavam percebendo o perigo da
destruição da identidade cultural e religiosa do povo.
O livro do
Eclesiástico é uma reação a este imperialismo cultural. Procura insistir
na fidelidade às tradições do povo de Deus e sua identidade própria. O
capítulo 3o fala dos deveres para com os pais (vv. 1-16), a humildade
(vv. 17-25); em seguida o autor medita sobre o orgulho (vv. 26-29) e
termina com dois versículos sobre a caridade (30-31). Percebemos,
portanto, uma clara contraposição entre a atitude orgulhosa e imponente
dos dominadores e a atitude sadia e humilde dos dominados. É só aos
humildes que Deus revela seus mistérios (v. 19). Grande e poderoso é só o
Senhor. Fazer-se pequeno, sentir-se frágil, impotente e humilde é
atitude correta e leal do ser humano. Esta atitude é fundamental para
que o fiel possa reconhecer a grandeza de Deus e confiar nele. Os
versículos finais mostram o valor da esmola para o perdão dos pecados e a
retribuição dos favores para encontrar apoio nos momentos de queda.
A que nós
cristãos devemos reagir hoje? Qual a cultura dominante? O que dizer da
globalização, do relativismo, do subjetivismo, do hedonismo (cultura do
prazer a todo custo) e tantos outros “ismos”?
SEGUNDA LEITURA - Hb 12, 18-19-22-24a
Neste texto
percebemos claramente uma contraposição entre a antiga e a nova aliança.
A antiga foi dada no monte Sinai através do fogo, nuvens, trevas,
tempestades e som de trombeta. O ambiente não era acolhedor e
aconchegante, mas terrível e aterrorizante. O povo até pedia que Deus
parasse de lhe falar, pois seu modo de falar lhe causava medo. Este modo
de experimentar Deus era amedrontador.
Mas a Nova
Aliança acontece de um modo diferente. O povo vai experimentar um Deus
próximo, amigo, solidário, íntimo. A Nova Aliança é selada através da
morte e ressurreição de Jesus. Seu sangue é mais eloquente que o sangue
de Abel (v. 24), quer dizer, o sangue derramado por Jesus é mais
importante e traz mais resultado. Ele expia os nossos pecados, nos
reconcilia com Deus e nos faz mais próximos dele. Na Antiga Aliança, o
povo se aproximava do Monte Sinai no deserto. Na Nova Aliança, o povo se
aproxima do Monte Sinai, da cidade do Deus vivo, da Jerusalém celeste.
Quer dizer, na Nova Aliança, o céu desce até a terra na pessoa de Jesus,
o Filho de Deus. Ao contrário do modo característico da Antiga Aliança,
estamos num ambiente de festa na presença dos anjos e santos (v. 23). É
claro que essa novidade não é uma porta para o descompromisso, mas uma
chamada à responsabilidade humilde e servidora a exemplo do nosso
mediador Jesus Cristo.
Você tem assumido as exigências da Nova Aliança?
EVANGELHO - Lc 14,1.7-14
O ambiente
O v. 1º nos dá o
ambiente do texto. É o dia de sábado. Para os judeus é um dia especial,
como o nosso domingo. É um dia em que os judeus celebravam a vida, que é
um dom de Deus para todo o mundo, pobres e ricos, pretos e brancos,
sãos e aleijados. Jesus entra na casa de um fariseu importante,
portanto, na casa de gente rica. Está para começar o banquete. Depois de
curar um enfermo, mostrando que a vida é mais importante que a lei (do
sábado), Jesus observa os convidados. Ele percebeu que os convidados
eram pouco modestos. Eles, vaidosamente, escolhiam os primeiros lugares
(v. 7).
A parábola
Jesus, então,
lhes propõe uma parábola, com a qual ensina que ao ser convidado para
uma festa de casamento a gente não deve escolher os primeiros lugares.
Com esta vaidade, a gente corre o risco de ser humilhado ao chegar um
convidado mais importante e a gente ter que ceder o lugar para ele. É
bom escolher, humildemente, o último lugar, pois assim o que nos
convidou pode dizer: “Amigo, sobe mais para cima”. Assim, a gente será
honrado diante de todos. No v. 11 Jesus conclui: “Pois todo aquele que
se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado”. Nada mais
claro. Jesus ensinava a humildade. Ele realmente é manso e humilde de
coração, e, quando ele se pôs à mesa com seus discípulos, ele lavou os
pés de todos e depois os serviu. Jesus veio para servir e não para ser
servido. Um modo humilde de ser é a novidade de Jesus.
Nos vv. 12 a 14
Jesus se dirige diretamente a quem o convidou. Ele tinha percebido que
os convidados eram gente importante. Então, Jesus disse para o seu
anfitrião que, da próxima vez, ele deve convidar quem não o pode
recompensar com outro convite. Ele deve convidar os pobres, entrevados,
coxos e cegos. Uma vez que estes não podem pagá-lo, a recompensa ficará
por conta de Deus, na ressurreição dos mortos. O Reino não é troca de
favores, mas gratuidade absoluta, por isso Jesus propõe uma inversão de
valores. Não é isso que lemos no Magnificat (Lc 1,51-53) como também na
parábola do rico e do pobre Lázaro (Lc 16,19-31)?
Quem se exalta
será humilhado e quem se humilha será exaltado. No dia do julgamento
isto vai ficar claro para surpresa de todos nós.
Colunista do Portal Ecclesia.
Bispo de
Caratinga (MG). Estudou teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana,
em Roma. Especializado em Sagradas Escrituras e mestre em exegese
bíblica e línguas orientais pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma.
Da redação do Portal Ecclesia.
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