O Papa Francisco dedicou a audiência geral desta quarta-feira 20/11, na Praça São Pedro, ao tema da remissão dos pecados, referindo-se especificamente ao chamado “poder das chaves”, um símbolo bíblico da missão que Jesus conferiu aos Apóstolos.
O mau tempo que persiste em Roma não conteve os peregrinos, romanos e turistas, que lotaram a Praça para participar do encontro semanal com Francisco. O Papa ingressou na Praça num carro aberto e durante 20 minutos foi aclamado pelos presentes, a quem distribuiu sorrisos e saudações. A certo ponto, desceu do jeep para beijar uma senhora idosa de cadeira de rodas.
O Pontífice começou sua catequese recordando que o protagonista do perdão dos pecados é o Espírito Santo. No cenáculo, quando apareceu aos Apóstolos, Jesus soprou sobre eles e disse “Recebeis o Espírito Santo”, indicando a transmissão da vida, da nova vida regenerada pelo perdão. Mas antes deste gesto de doar o Espírito, Jesus mostra suas feridas nas mãos e nas costas, que representam o preço de nossa salvação. “O Espírito Santo nos traz o perdão de Deus passando através das chagas de Jesus”, completou Francisco.
Como segundo elemento, o Papa acrescentou que “Jesus deu aos Apóstolos o poder de perdoar os pecados; e a Igreja é a depositária do poder das chaves. Deus perdoa o homem na sua soberana misericórdia, mas Ele mesmo quis que as pessoas que pertencem a Cristo e à sua Igreja recebam o perdão através dos ministros da Comunidade”.
Através do ministério apostólico, a misericórdia de Deus chega a nós, perdoa nossas culpas e proporciona a alegria. É deste modo que Jesus nos chama a viver a reconciliação nas dimensões eclesial e comunitária – “o que é muito bonito”, considerou o Papa.
Francisco fez, no entanto, uma ressalva: “A Igreja não é senhora do poder das chaves, mas serva do ministério da misericórdia, e fica feliz sempre que pode oferecer este dom divino. Muitas pessoas hoje não entendem a dimensão eclesial do perdão em meio ao individualismo e ao subjetivismo, e por vezes até nós, cristãos, sofremos por isso. “É claro”, explicou o Papa, “Deus perdoa pessoalmente todo pecador arrependido”.
Enfim, o Pontífice ressaltou um último quesito: o sacerdote como instrumento para o perdão dos pecados. O perdão de Deus que nos é dado pela Igreja é transmitido pelo ministério de um nosso irmão, o sacerdote; um homem que, como nós, precisa de misericórdia e se torna instrumento de misericórdia doando-nos o amor ilimitado de Deus Pai.
“Às vezes, ouve-se dizer: “Eu confesso-me diretamente a Deus”. É verdade que Deus sempre te ouve, mas, no sacramento da Penitência, manda um irmão trazer-te o perdão. O sacerdote confessor deve estar ciente de que o irmão ou irmã que se aproxima dele procura o perdão e o faz como tantas pessoas que procuravam Jesus para que as curasse. Os fiéis penitentes têm o direito de encontrar, nos sacerdotes, servidores do perdão de Deus”, afirmou.
“O serviço do sacerdote como ministro é muito delicado, exige que seu coração esteja em paz; que não maltrate os fiéis, mas que seja delicado, benevolente e misericordioso; que saiba semear esperança nos corações. Principalmente, o padre deve saber que o irmão ou irmã que se aproximam do sacramento da Reconciliação buscam o perdão. “É melhor – advertiu Francisco – que os sacerdotes que não têm esta disposição não administrem este Sacramento, até conseguirem mudar”.
Como faz habitualmente, o Papa terminou sua catequese com um convite à reflexão: “Como membros da Igreja, somos conscientes deste dom que Deus nos oferece? Sentimos a alegria da atenção materna que a Igreja tem por nós? Sabemos valorizá-la com simplicidade e assiduidade? Não devemos esquecer que Deus nunca se cansa de nos perdoar e que mediante o ministério do sacerdote nos envolve em um abraço que nos regenera e nos ajuda a levantarmos e recomeçar um novo caminho”.
Depois de proferir a catequese, sendo interrompido várias vezes pelos aplausos dos fiéis, o Papa saudou os grupos vindos de diversos países e recordou que quinta-feira, 21 de novembro celebramos a Jornada Pro Orantibus, dedicada à recordação das comunidades religiosas de clausura. É uma ocasião oportuna, disse, para agradecer ao Senhor pelo dom de tantas pessoas que se dedicam a Deus na oração e no silêncio operoso nos mosteiros.
“Damos graças ao Senhor pelos testemunhos de vida claustral e ofereçamos sempre a estes nossos irmãos e irmãs o nosso apoio espiritual e material, a fim de que possam cumprir esta importante missão”, pediu.
Francisco lembrou também que no dia 22, sexta-feira, será inaugurado pelas Nações Unidas o Ano Internacional da Família Rural, visando ressaltar que a economia agrícola e o desenvolvimento rural veem nas famílias trabalhadores que respeitam a Criação, e estão atentos às necessidades concretas.
“Também no trabalho, a família é um modelo de fraternidade para viver uma experiência de unidade e de solidariedade entre todos os seus membros, com uma maior sensibilidade por quem mais necessita de cuidados ou de ajuda, impedindo na raiz eventuais conflitos sociais. Por esses motivos, faço votos de que esta iniciativa contribua a valorizar os inúmeros benefícios que a família oferece ao crescimento econômico, social, cultural e moral de toda a comunidade humana.”
Por fim, o Pontífice recordou as vítimas das enchentes na Ilha da Sardenha, pedindo aos fiéis na Praça uma oração silenciosa. Entre os 16 mortos na tragédia, quatro eram brasileiros.
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