quarta-feira, 12 de março de 2014

Exercícios Espirituais ao Papa e Cúria: os frutos da fé nascem do encontro entre Deus e o homem

  Prosseguem em Ariccia, nos Castelos Romanos – a cerca de 40 quilômetros de Roma –, em seu terceiro dia, os Exercícios Espirituais propostos ao Papa e à Cúria Romana. Iniciados no domingo, os exercícios se concluirão na próxima sexta-feira.
O homem é como uma romã: dentro tem muitas sementes carnosas, tantas quantas os elementos da criação. Deus colocou-as todas juntas envolvidas em arilo polposo, sobre o qual infundiu o sopro da vida.
De fato, na manhã desta terça-feira – na abertura do terceiro dia de Exercícios Espirituais para o Papa e a Cúria Romana na casa Divin Maestro em Ariccia –, enquanto o pregador Mons. Angelo De Donatis oferecia essa imagem da criação do homem, mostrou uma bonita romã, madura e compacta, quase dando a idéia da beleza da criatura humana.
Uma beleza que, porém – disse –, é destinada a desfazer-se se se impede artificiosamente o sopro de Deus, ou seja, o amor misericordioso que Ele nos dá, de penetrar em profundidade. Então ocorre que cada uma daquelas pequenas sementes – explicou –, tomada pela vontade de auto-afirmação, procura expandir-se num confronto despótico com as outras, até provocar a explosão e, consequentemente, a desintegração do fruto.
Tratou-se, naturalmente, de uma metáfora que o pregador usou para explicar o efeito do mal que toma conta do homem.
Inicialmente, o pároco da paróquia romana de São Marcos Evangelista, no Capitólio, referiu-se à passagem do encontro de Jesus com o endemoninhado narrada pelo evangelista Marcos (5, 1-20), do qual repropôs os momentos salientes:
O diálogo, a súplica do demônio para não ser expulso e, consequentemente, obrigado a vagar; a pergunta de Jesus para saber qual era o nome dele; o definir-se "legião" por parte do demônio, a indicar um número enorme daqueles que tinham possuído aquele homem e que o governavam; o pedido deles a serem ao menos transferidos todos para a manada de porcos que estava ali nas proximidades e que, uma vez recebido o consenso de Jesus, enlouqueceram os porcos a ponto de provocar o suicídio deles em massa por afogamento no mar.
Um episódio – explicou Mons. De Donatis – que pela reação dos proprietários dos porcos nos aproxima do que acontece hoje no mundo. De fato, ninguém, narra São Marcos, deu-se conta daquele jovem que, libertado do demônio, voltava à vida, porque estavam mais preocupados com o dano econômico provocado pela morte daqueles dois mil porcos, a ponto de expulsarem Jesus, o qual se retirou sem dizer nada. Efetivamente, uma ideologia econômica impediu que aqueles homens encontrassem Jesus.
Diante da ideologia econômica pagã põe-se a religião. Jesus expulsa o demônio. E o homem encontra-se livre, libertado por Cristo. Não tem medo, está livre do medo. Deus o salvou. E o salvou não porque tivesse feito algo de extraordinário, mas porque tinha chegado ao amor misericordioso de Deus.
E para chegar a esse amor – observou Mons. De Donatis – precisamos da ajuda do Espírito Santo. Sem Ele seria impossível. De fato, não servem as nossas obras para chegar a Deus, explicou ainda. O necessário é a essencialidade do amor em Cristo.
O pregador já havia dedicado grande parte da meditação de segunda-feira à tarde à relação entre obras do homem e graça de Deus.
Referindo-se à passagem da Carta de São Paulo aos Efésios (2, 1-10), Mons. De Donatis recordara em particular que nossa tarefa não é mostrar ao mundo o que a Igreja faz, o que fazem os padres, os cristãos, mas mostrar o que Deus faz através de nós.
Quando, ao invés, colocamos em primeiro plano nosso empenho, nossas obras, então corremos o risco de tornar-nos mundanos.
Por isso, devemos nos empenhar a reconhecer que somos todos simplesmente "pecadores perdoados". Somos salvos <<pela graça>>, como mais vezes recorda São Paulo, não <<pelas obras da lei>>. Portanto, devemos libertar-nos da tentação de querer sempre fazer algo esquecendo que, na realidade, fomos salvos gratuitamente. Hoje é muito difusa essa fome de aparecer com nossas obras. Mas a verdadeira "boa obra" é Cristo, observou.
Daí, o exame de consciência ao qual o pregador convidou os católicos, exortando-os a se perguntarem: como é possível que as pessoas, vendo o volume trabalho e obras que a Igreja realiza, não louvam o Senhor? Evidentemente, algo não está certo.
Portanto, não se deve continuamente buscar aplausos, nem alimentar invejas clericais. A pastoral hodierna – constatou o pregador – é em boa parte um esforço do fazer: na realidade, tudo deveria brotar como fruto do Espírito Santo.
Em suma – sentenciou –, somos por demais habituados a fazer projetos e depois a pedir ao Senhor que faça alguma coisa para que a missão não fracasse. Ao invés, é indispensável mudar a perspectiva: se começa a capinar, depois se lança a semente, se irriga e por fim o grão chega. Desse modo – concluiu Mons. De Donatis –, os frutos da fé nascem realmente do encontro entre Deus e o homem. 

Fonte: Vaticano News

 

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