
Prosseguem em Ariccia, nos Castelos Romanos – a cerca de 40
quilômetros de Roma –, em seu terceiro dia, os Exercícios Espirituais
propostos ao Papa e à Cúria Romana. Iniciados no domingo, os exercícios
se concluirão na próxima sexta-feira.
O homem é como uma romã: dentro
tem muitas sementes carnosas, tantas quantas os elementos da criação.
Deus colocou-as todas juntas envolvidas em arilo polposo, sobre o qual
infundiu o sopro da vida.
De fato, na manhã desta terça-feira – na
abertura do terceiro dia de Exercícios Espirituais para o Papa e a Cúria
Romana na casa Divin Maestro em Ariccia –, enquanto o pregador
Mons. Angelo De Donatis oferecia essa imagem da criação do homem,
mostrou uma bonita romã, madura e compacta, quase dando a idéia da
beleza da criatura humana.
Uma beleza que, porém – disse –, é
destinada a desfazer-se se se impede artificiosamente o sopro de Deus,
ou seja, o amor misericordioso que Ele nos dá, de penetrar em
profundidade. Então ocorre que cada uma daquelas pequenas sementes –
explicou –, tomada pela vontade de auto-afirmação, procura expandir-se
num confronto despótico com as outras, até provocar a explosão e,
consequentemente, a desintegração do fruto.
Tratou-se, naturalmente, de uma metáfora que o pregador usou para explicar o efeito do mal que toma conta do homem.
Inicialmente,
o pároco da paróquia romana de São Marcos Evangelista, no Capitólio,
referiu-se à passagem do encontro de Jesus com o endemoninhado narrada
pelo evangelista Marcos (5, 1-20), do qual repropôs os momentos
salientes:
O diálogo, a súplica do demônio para não ser expulso e,
consequentemente, obrigado a vagar; a pergunta de Jesus para saber qual
era o nome dele; o definir-se "legião" por parte do demônio, a indicar
um número enorme daqueles que tinham possuído aquele homem e que o
governavam; o pedido deles a serem ao menos transferidos todos para a
manada de porcos que estava ali nas proximidades e que, uma vez recebido
o consenso de Jesus, enlouqueceram os porcos a ponto de provocar o
suicídio deles em massa por afogamento no mar.
Um episódio – explicou
Mons. De Donatis – que pela reação dos proprietários dos porcos nos
aproxima do que acontece hoje no mundo. De fato, ninguém, narra São
Marcos, deu-se conta daquele jovem que, libertado do demônio, voltava à
vida, porque estavam mais preocupados com o dano econômico provocado
pela morte daqueles dois mil porcos, a ponto de expulsarem Jesus, o qual
se retirou sem dizer nada. Efetivamente, uma ideologia econômica
impediu que aqueles homens encontrassem Jesus.
Diante da ideologia
econômica pagã põe-se a religião. Jesus expulsa o demônio. E o homem
encontra-se livre, libertado por Cristo. Não tem medo, está livre do
medo. Deus o salvou. E o salvou não porque tivesse feito algo de
extraordinário, mas porque tinha chegado ao amor misericordioso de Deus.
E
para chegar a esse amor – observou Mons. De Donatis – precisamos da
ajuda do Espírito Santo. Sem Ele seria impossível. De fato, não servem
as nossas obras para chegar a Deus, explicou ainda. O necessário é a
essencialidade do amor em Cristo.
O pregador já havia dedicado grande parte da meditação de segunda-feira à tarde à relação entre obras do homem e graça de Deus.
Referindo-se
à passagem da Carta de São Paulo aos Efésios (2, 1-10), Mons. De
Donatis recordara em particular que nossa tarefa não é mostrar ao mundo o
que a Igreja faz, o que fazem os padres, os cristãos, mas mostrar o que
Deus faz através de nós.
Quando, ao invés, colocamos em primeiro plano nosso empenho, nossas obras, então corremos o risco de tornar-nos mundanos.
Por
isso, devemos nos empenhar a reconhecer que somos todos simplesmente
"pecadores perdoados". Somos salvos <<pela graça>>, como
mais vezes recorda São Paulo, não <<pelas obras da lei>>.
Portanto, devemos libertar-nos da tentação de querer sempre fazer algo
esquecendo que, na realidade, fomos salvos gratuitamente. Hoje é muito
difusa essa fome de aparecer com nossas obras. Mas a verdadeira "boa
obra" é Cristo, observou.
Daí, o exame de consciência ao qual o
pregador convidou os católicos, exortando-os a se perguntarem: como é
possível que as pessoas, vendo o volume trabalho e obras que a Igreja
realiza, não louvam o Senhor? Evidentemente, algo não está certo.
Portanto,
não se deve continuamente buscar aplausos, nem alimentar invejas
clericais. A pastoral hodierna – constatou o pregador – é em boa parte
um esforço do fazer: na realidade, tudo deveria brotar como fruto do
Espírito Santo.
Em suma – sentenciou –, somos por demais habituados a
fazer projetos e depois a pedir ao Senhor que faça alguma coisa para
que a missão não fracasse. Ao invés, é indispensável mudar a
perspectiva: se começa a capinar, depois se lança a semente, se irriga e
por fim o grão chega. Desse modo – concluiu Mons. De Donatis –, os
frutos da fé nascem realmente do encontro entre Deus e o homem.
Fonte: Vaticano News